sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Caminhada no Morro Santana - 15 de Novembro de 2011

Aproveitamos o feriado de 15 de novembro para fazer uma caminhada que programávamos há tempos com os amigos Érico e Camila, e nunca acontecia. Finalmente, chegou o dia!
A ideia era subir o Morro Santana a partir dos fundos da casa deles, entrando direto na mata, ou mato, do Morro Santana, o morro mais alto de Porto Alegre.
Enquanto Camila e Érico preparavam nossa guarda-costas para a caminhada, Leonardo já se embrenhava mata a dentro.
Estamos em Porto Alegre, em plena área urbana. Ao pé do Morro Santana está o bairro Morro Santana e várias vilas ao redor. Teve uma época em que não era recomendado andar pelo morro, nem sozinho, nem acompanhado, pois os assaltos eram frequentes. Por via das dúvidas, Érico e Camila resolveram levar a Pepita, um de seus 9 cães, como "cã" de guarda... rsrsrsrs...
Camila e Érico colocando a guia na Pepita.
O dia estava nublado, até friozinho, perfeito para uma caminhada! No começo o mato estava bem fechado, mas não demorou para chegarmos numa trilha de areião, daqueles que a gente pisa e escorrega nas pedrinhas soltas. Como era subida, não escorregamos tanto. Já na descida...
A trilha mais parecia resultado de erosão, um caminho por onde deve correr a água em dias de chuva. Se não me engano, segundo o Érico, grande conhecedor da área e nosso guia na caminhada, era por ali que deveria ter uma cascatinha, que estava seca naquele dia, pois depois de um inverno tri chuvoso, estamos passando por uma primavera bem seca.
Infelizmente, vimos lixo acumulado nas valetas desta trilha. O Homem sempre deixando sua pior pegada.
Além de pedras, haviam muitas flores no caminho.

Não são flores plantadas, nem flores vistas em jardins de residências ou floricuturas. São flores do mato,que crescem sozinhas, resistentes, grandes, pequenas e minúsculas. Algumas são tão minúsculas, que mal percebemos no meio do mato. Aliás, fico meio "pé atrás" quando uso a palavra "mato", pois parece que estou depreciando, mas pelo contrário, mato, para mim é coisa boa, uma riqueza, diversidade.



Em seguida chegamos numa pedra onde o Érico costumava praticar escalada. A vista de lá já é bem bacana, isso que mal começamos a caminhada.


Leonardo e Érico desceram para ver a parede e conversar sobre escalada.


Desceu por um lado e subiu por outro.








Continuamos a subir, vimos pessoas em outra pedra bem mais adiante, "bola 8" parece ser o nome da pedra, e também ouvimos barulho de motos. Muitos motoqueiros costumam subir o morro para andar nas trilhas e praticar o que, na minha época chamávamos de moto-cross. Não que eu seja muito velha...




A quantidade de cactus no meio do caminho e no meio das pedras chamou a minha atenção.






Amei esse buquê!
Chegamos na estrada que vai para a APAMESI - Associação de Pais e Mestres do Colégio Santa Inês, colégio em que estudei durante toda a minha vida estudantil, do pré-primário até o 3° ano do 2°grau. Muitos passeios foram feitos na APAMESI, cuja sede campestre fica bem no topo do morro. Passeios organizados pelo próprio colégio, normalmente no dia das crianças e também alguns churrascos que o meu pai organizou com amigos e familiares. Acho que a última vez que subi lá, foi num dos últimos anos do colégio, com algumas colegas de aula. O pai tinha uma kombi na época e nos levou lá em cima. Deviam ser umas 8 gurias. Fomos de manhã e o pai nos buscou de tarde, levamos lanches, cada uma levava uma coisa, um salgado, um doce, refri e saía um belo banquete com tudo o que gostávamos. Lembro que jogamos futebol. Sim, jogamos futebol, só gurias. Coisa bem boa! Pena que não tenho nenhuma foto daquele dia!


A entrada para a APAMESI fica na Protásio Alves, um pouco mais adiante da casa do Érico e da Camila. Tem que ter autorização para entrar e não sei quem comanda isso. Chegamos numa bifurcação onde haviam duas placas. Uma placa indicava a UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e a outra indica o caminho para a APAMESI. Seguimos pela APAMESI porque o nosso objetivo era chegar perto das pedreiras.
No caminho, passaram por nós dois motoqueiros paramentados e suas motos de trilha.
Andamos por um tempinho na estrada. Leonardo parava bastante para fotografar as flores. Haviam muitos cactos grandes e pequenos e os grandes, quase todos estavam floridos.
De repente, Camila viu uma cobra, bem pequena. Nenhum de nós é conhecedor deste réptil, mas parece que era uma coral, bem pequena e colorida. Eu não cheguei muito perto, pois morro de medo, já o Leonardo se abaixou o quanto pôde para fotografar a bichinha. Eu tirei uma foto por trás do Leonardo, bem de longe, quem se esforçar, conseguirá ver na foto abaixo, na altura das coxas do Leonardo, onde começa o casaco dele. Com boa vontade dá pra ver uma tripinha colorida de vermelho. Ela tentava nos enganar torcendo a cabeça para que pensássemos ser o rabo. Se deixou fotografar e entrou no mato. Que siga em paz, sem ninguém para atrapalhar. Ninguém, nem nada, nem fogo algum porque é impressionante as marcas de queimadas no morro.
Leonardo fotografando a cobrinha.
Em seguida chegamos no marco zero, o ponto mais alto de Porto Alegre. Eu não sabia da existência deste marco, apesar de crescer sabendo que o Morro Santana é o ponto mais alto da cidade.
Leonardo ficou fotografando a vista do ponto mais alto para fazer uma panorâmica.

O marco zero e Érico.
Parte da família Randazzo Silveira.
Mais cactos para o Leonardo fotografar.
Logo depois do marco zero, saímos da estrada e fomos em direção a pedreira, por dentro do mato, que não é um mato alto, nem fechado porque a queimada tratou de limpar tudo. Apesar do capim e cactus estarem verdes e brotando, dá para perceber, sem esforço algum, o capim queimado por fora do verde que está brotando, as pedras ainda pretas e galhos maiores transformados em carvão, que deixavam riscos pretos em nossas pernas ao encostarem neles. Aquele era o segundo ponto de queimada por onde passávamos e este, era bem grande! Encontramos até uma ossada de um bicho que não conseguimos identificar o que era, me pareceu um roedor, e estava queimada. Se morreu durante a queimada ou morreu, e depois teve a queimada, não saberemos, mas com certeza, além das espécies vegetais, muitos animais devem acabar mortos nestes "incidentes".
" Geologicamente a estrutura do terreno portoalegrense é muito antiga. Localmente o relevo da cidade é dominado pelo Maciço de Porto Alegre, parte do Cinturão Dom Feliciano, formado entre 2 e 2,4 bilhões de anos atrás e responsável pela existência da cadeia de morros que circunda a cidade. Os morros mais elevados são o Morro Santana, com 331m, o Morro da Polícia, com 291m, e o Morro Pelado, com 298m. A altitude média da cidade é de 10 m acima do nível do mar. Nos morros encontram-se áreas de rocha exposta, em parte matacões descobertos lentamente pela erosão natural, em parte pela exploração comercial de pedreiras a partir do século XIX, e pela urbanização desordenada."








Butiazeiro com as folhas queimadas, mas se recuperando.
"O Morro Santana é o ponto mais alto do município brasileiro de Porto Alegre, com 311 metros acima do nível do mar. É formado por rochas graníticas e ocupa uma área de aproximadamente mil hectares, dos quais cerca de 600 pertencem à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O morro tem importância histórica por ter abrigado, em 1740, uma sentinela de propriedade de Jerônimo de Ornelas, o fundador da cidade de Porto Alegre.
Localizado em uma área bastante urbanizada, o bairro Morro Santana (Porto Alegre), está rodeado por grandes avenidas como a Av. Bento Gonçalves, a Av. Protásio Alves e a Av. Antônio de Carvalho, ocasionando problemas de ocupação irregular e falta de segurança. Representa um dos últimos remanescentes naturais da cidade, onde vivem em harmonia campos, lagos, cachoeiras e cascatas
.
É a unidade geomorfológica local com maior cobertura vegetal nativa, sendo que aproximadamente 60% de sua área está ocupada por Mata Atlântica e o restante por campos sulinos
. A riqueza e a diversidade de espécies vegetais na área de campos são bastante expressivas, sendo estimadas em torno de 400 espécies.
A fauna nativa do morro apresenta importantes espécies locais e regionais e uma grande diversidade de animais. O total de registros para todo o morro ultrapassa cem espécies, sendo que cerca de 10% destas espécies são migratórias, e chegam ao morro na primavera, ali permanecendo até o verão. Para os mamíferos
, foram registradas 14 espécies nativas."
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Morro_Santana

Que vergonha! Nem eu, uma legítima portoalegrense, apaixonada pela cidade, sabia de tudo isso. Mas tenho percebido que isso é comum, não conhecermos o lugar onde vivemos.
Quando fomos na Guarda do Embaú agora em setembro, conversando com a atendente da padaria onde tomamos café todos os dias em que estivemos lá, perguntei se ela já tinha visto as baleias. Para a minha surpresa ela respondeu que não e pior, que nunca tinha subido até a Pedra do Urubú e mal conhecia as praias da Guarda e Pinheira. Pessoas de vários cantos do país invadindo a terra dela para ver as baleias e ela, que trabalha a menos de 500 m da praia, não tinha visto uma única baleia ainda. A desculpa dela foi justa: os pais não a deixavam sair de casa e agora que estava crescida, morando com a avó, trabalha durante o dia e estuda de noite, se preparando para ser comissária de vôo, se lembro bem. Lembro que estava estudando inglês. Mas não conseguir 15 minutinhos para ver as baleias ou um dia de folga para subir até a Pedra do Urubú, é dose, né? Cada um com suas prioridades...
Gosto é gosto e não se discute. Ninguém é obrigado a caminhar, fazer trilhas, se não gosta deste tipo de atividade. Mas respeitar é obrigação de todos. Eu confesso que, a única coisa que sabia sobre o Morro Santana, até fazer esta postagem é que é o morro mais alto da cidade, está cercado pelas avenidas citadas acima (se não soubesse isso, merecia uma surra, pois moro a 4 km do morro) e que o morro sofreu muito com a exploração comercial de pedreiras. Da minha casa enxergo as feridas abertas do morro, duas enormes pedreiras que funcionaram a todo vapor na década de 70. Da minha casa a gente ouvia as explosões, todos os dias ao meio-dia. Felizmente, acabaram com esta exploração, apesar de terem deixado por tempo demais, pois o estrago foi enorme.






Aqui está ela, a pedreira maior. Estamos bem na beirinha dela e, apesar de se ver de longe indicando que é um buraco significativo, só de pertinho assim, é que dá pra sentir o tamanho do estrago!
Escrevi "sentir" porque foi o que aconteceu mesmo. Eu senti tristeza vendo aquela ferida e senti medo também, não consegui ficar muito tempo na beira do precipício. Tenho problemas com altura, perco o equilíbrio.
Me afastei e fiquei pensando sobre a exploração daquela pedreira e de outras que ainda estão sendo exploradas. Na BR 101 podemos ver algumas em pleno funcionamento, morros inteiros desaparecendo, na cara de todo mundo. As leis ambientais estão aí, mas elas só protegem os interesses dos poderosos. Enquanto isso, "a riqueza e a diversidade de espécies vegetais" e "a fauna nativa do morro que apresenta importantes espécies locais e regionais e uma grande diversidade de animais", (palavras da Wikipédia) vão sendo dizimadas e empurradas para os centros urbanos. Está cada vez mais comum, notícias de animais silvestres, como jacarés, onças, gatos do mato e aves que só se viam no seu habitat natural, encontrados nos pátios das casas. Por que será??
E já que estamos em Porto Alegre, podemos ver isso acontecendo nesta foto abaixo. Não com a pedreira, mas com o crescimento imobiliário. Na minha adolescência, no meu tempo de colégio, brincava com meus colegas que eu morava no fim do mundo, pois depois da minha casa não haviam mais tantas casas e tinha muito mato, mas muito mato mesmo. Hoje, esse mato está indo abaixo para dar lugar a condomínios, condomínios horizontais, condomínios verticais, condomínios e mais condomínios. E o mato da cidade está diminuindo, e os bichos não têm mais para onde fugir.
Tenho notado que não consigo mais fazer postagem sem deixar de comentar algum desrespeito do Homem contra o meio-ambiente, mas é impossível sair sem deixar de ver isso e isso é uma coisa que me preocupa muito. O que estamos fazendo com o nosso mundinho? E não precisamos ir longe e pensar no problema da Amazônia. Vamos ver o problema que tem em nossa cidade, bem pertinho da gente. Espero que fique a mensagem para quem lê o blog. Viajando ou não, precisamos cuidar do meio-ambiente.








Linda a cor deste chumaço de capim!
Voltando para a casa, descendo o morro.
Sinais de civilização: um "gatus domésticus".
Aqui, a "diversidade das espécies vegetais", citadas pelo Wikipédia.






Pepita bebendo água direto da fonte, bem pertinho da casa dela.